Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia Nacional Online
História de um famoso bandido brasileiro do início dos anos 70 e sua luta contra um esquadrão da morte.
Hector Babenco tem uma conhecida preferência por personagens marginalizados, que desafiam as estruturas do status quo e, não raro, pagam preço caro por esta libertária condição. Em seu segundo longa-metragem de ficção, o cineasta já mostrava esta predileção com Lúcio Flávio: O Passageiro da Agonia, produção vencedora de quatro Kikitos no Festival de Gramado em 1978, além de ter sido apontado o melhor filme pelo público da Mostra Internacional de São Paulo, um ano antes.
Na trama, assinada por Babenco ao lado de Jorge Durán e José Louzeiro, conhecemos o criminoso Lúcio Flávio (Reginaldo Faria), sujeito que vive na corda bamba, assaltando aqui e ali, com um sonho praticamente inalcançável de se dar bem na vida. No seu caminho, uma polícia tão corrupta quanto a bandidagem, que faz acordos escusos para levar algum lucro em qualquer empreitada. Neste contexto em que o Esquadrão da Morte, parte da polícia que eliminava criminosos sem prestar contas, começou suas operações, Lúcio Flávio foi uma das vozes que colocou o jogo sujo dos homens da lei nos jornais
Se nesta sinopse Lúcio Flávio surge como uma figura heroica, não é mero engano. Babenco, inclusive, foi bastante criticado por colocar em luz tão branda um homem que assaltava bancos – e dizia que só matava quando alternativa lhe faltava. É verdade que, na tentativa de mostrar a desonestidade da polícia do início da década de 1970, o diretor coloca um famoso bandido como herói. Mas não livra completamente a barra do protagonista. Podemos acompanhá-lo em sua jornada, mas temos consciência do que ele faz e dos erros de seus caminhos. Fosse lançado nos dias de hoje, Lúcio Flávio: O Passageiro da Agonia receberia o mesmo número de críticas que Tropa de Elite (2007) recebeu pelo pretenso fascismo, ou a mesma batelada de vozes contrárias a outro trabalho de Babenco, Carandiru (2003), pelo papel abrandado dos encarcerados. Tentar enxergar o lado do outro, afinal de contas, é uma marca do cinema de Hector Babenco.